quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

100% REPRESENTATIVIDADE




Dois eventos recentes são os motivadores desse texto. O primeiro foi o lançamento do filme Pantera Negra nos cinemas, o segundo foi o “discurso” do apresentador do reality show BBB Tiago Leifert.

Quando Pantera Negra foi lançado muitos entenderam e louvaram a relação direta entre um protagonista negro de um filme de super-herói e a representatividade. Mas o que chamou a atenção foi a imediata chuva de discursos e piadinhas tentando tirar a legitimidade dessa representatividade.

Quando uma participante de um reality show saiu do programa, o apresentador irresponsável fez um discurso em rede nacional recheado de bobagens onde uma frase me chamou muito a atenção “A representatividade não leva a nada”. A irresponsabilidade de dizer uma frase dessa em rede nacional na maior emissora de televisão do país não tem justificativa, em nenhum contexto.

Porque a representatividade importa tanto? Essa pergunta não deveria nem existir. A partir do momento que tu entende o que é a representatividade tu entende porque ela importa. A partir do momento que tu precisa da representatividade tu entende porque ela tem que ser defendida em qualquer contexto.

A representatividade importa porque é ela que te permite vestir uma camisa escrita “100% NEGRO”. Representatividade importa porque é ela que te permite participar da Parada do Orgulho Gay, te permite pendurar na janela de casa uma bandeira de arco-íris.

Até meados dos anos 70 o IBGE fazia a classificação de etnia do Censo. Para o instituto só haviam três classificações possíveis. Negro, Branco e Pardo. Depois foi permitido que cada pessoa auto-declarasse sua etnia. De três possíveis anteriores, o IBGE passou a registrar CENTENAS de classificações. Moreno Jambo, Moreno puxado pra branco, Moreno claro, foram só algumas classificações que as próprias pessoas criaram.

E por que essas pessoas fizeram isso? Porque elas não queriam ser negras!

Desde o Brasil colônia ser negro no Brasil estava ligado diretamente a uma condição de vida, a mais precária possível. A ascensão social estava ligada diretamente a cor da sua pele, ser Branco te dava condições muito melhores do que ser negro. Essa construção cultural não terminou com o fim da escravidão, muito pelo contrário. O preconceito dos não negros nunca diminuiu. O acordo era claro, não seja negro que a sua vida será muito melhor. A partir de então as pessoas passaram a se embranquecer na tentativa de se afastar cada vez mais da negritude.

Ser negro passou a ser sinônimo de ofensa. “Negão”, “Moreno escuro”, “Moreno claro” eram as expressões que as pessoas usavam, mas ninguém tinha coragem de usar a palavra NEGRO. Na verdade ela era na maioria das vezes usada como ofensa mesmo “Seu Negro!”.

Quando tu perde a identidade tu perde a condição de irmandade. Tu não consegue ver a luta do teu par. Tu queres ser exatamente aquilo que te oprime, porque é a única maneira de deixar de ser oprimido.

A partir de meados dos ano 90 um movimento no Brasil começou a dar um pouco mais de voz para os Negros. Havia revistas voltadas só para o público negro, moda só para negros. O objetivo não era dizer que as “coisas de brancos” eram ruins, o objetivo não era segregar, era justamente o oposto. O povo negro deveria se unir, se sentir orgulhoso daquilo que ele é, e não buscar se representar em outro que não é ele.

100% NEGRO era o que se via na rua em camisetas, grafites, etc. “Sim, eu sou NEGRO e não me envergonho disso” era a mensagem que queríamos passar. Eu não sou moreninho claro, eu não sou negão, eu não sou pardo, eu sou NEGRO. Eu luto pela causa do meu igual, e o meu igual também é NEGRO.

A mesma coisa acontece com os homossexuais. Nunca foi permitido a eles ser o que eles são. A tentativa de todos os gays era parecer o outro, aquele que oprime. Quem tentasse o oposto era segregado, apontado na rua. Eles escondem o que realmente são. É muito mais fácil ser hétero, por que então não ser iguais a eles? Quando tu assume que tem Orgulho de ser gay é justamente o momento de se auto afirmar, de ter identidade.

Mas de nada adianta ter o orgulho interno se tu não tem em quem se espelhar. Pra que vou ter orgulho de ser negro se eu nunca vi um negro na diretoria de uma empresa? Se eu nunca vi um negro artista. Eu preciso me identificar, “olha lá, ele é igual a mim e tá lá, eu quero ser ele”. Por que vou ter orgulho de ser gay se todos que eu posso admirar são héteros? “Alí, uma travesti sendo a cantora mais famosa do Brasil, é isso que eu quero pra mim”, agora vale a pena ter orgulho, um igual chegou onde todos queriam chegar.

Um rei negro no cinema. “Aqui, mostro com orgulho!” “tá vendo como ele é igual a mim?” “tá vendo com ele é NEGRO?” é isso que é representatividade, é não ter vergonha de mostrar a própria pele.

Representatividade leva a muitos lugares, o lugar que as pessoas quiserem ir.


ps.: Se você entendeu esse texto, tu consegue entender porque não existe “orgulho branco”, nem “Parada do Orgulho Heterssexual”

quinta-feira, 1 de outubro de 2015

O trabalho do designer é profissional, mesmo que o mercado seja amador


O design gráfico nasce no capitalismo. A revolução industrial, a produção em série e a criação de mercados consumidores, fez nascer a necessidade do design gráfico. O design gráfico só existe porque a sociedade consumidora se desenvolveu nos países industrializados. Nosso papel como designer é deixar vivo o capitalismo. Manter a chama do mercado sempre acesa. Por isso que o design gráfico é um indicador de desenvolvimento econômico de uma sociedade.

Essa ideia não é nenhuma novidade. Fábio Mestriner, no livro "Design de embalagem", fala a mesma coisa, mas referindo-se só ao design de embalagem, "A embalagem hoje é um importante componente da atividade econômica dos países industrializados, em que o consumo deste item é utilizado como um dos parâmetros para aferir o nível de atividade da economia." (2002). Depois que alguém explica, a coisa fica óbvia. Se o design é um instrumento de desenvolvimento do capitalismo, quanto mais design existe numa sociedade capitalista, mais desenvolvida economicamente ela é.

Essa análise pode ser global ou local. Quando levamos em consideração uma empresa ao invés de um setor inteiro, por exemplo. Quando um empresário entende a importância de um profissional de design gráfico para o desenvolvimento de sua empresa, é porque ele está no nível muito mais avançado de desenvolvimento comercial.

A literatura de Marketing traz a noção clássica de "composto de marketing", que seriam os elementos mais fundamentais de uma organização comercial (de qualquer tipo). Esses elementos precisam estar muito bem estruturados, para que o negócio caminhe rumo ao sucesso. O composto é divido em "Ps". Produto, Preço, Praça e Promoção. Cada um deles abrange uma série de questões, tais como política de preços, canais de distribuição, qualidade, marca registrada, embalagem, rotulagem, etc. O design gráfico está envolvido com o "P" de promoção. Junto com a publicidade, é o design gráfico que vai fazer chegar até o consumidor o nome da empresa. Nessa perspectiva profissional de mercado, o design gráfico é tão importante para o sucesso de uma empresa, quanto a logística ou o próprio produto. Deixar de lado, ou em segundo plano um dos "Ps" é enterrar o futuro da empresa no buraco do fracasso.

...o design gráfico é um indicador de desenvolvimento econômico de uma sociedade.

Uma empresa que entende a importância do Designer, é a empresa que já tem os seus fundamentos muito bem estabelecidos no mercado que atua. Pra entender a necessidade de uma boa fundação - na construção civil, por exemplo, uma boa fundação faz com que os prédios sejam sólidos, quanto melhor a fundação, maior e mais resistente é o prédio. Quando a fundação é bem feita, o limite para o crescimento (do prédio ou da empresa?) é o céu.

Um empresário que acha caro o trabalho do designer não precisa de um designer. Com certeza a empresa dele precisa muito mais de um administrador. Com certeza a empresa dele precisa de alguém que resolva problemas de caixa, de fluxo, de balanço, problemas de base. Um empresário que não entende a importância do papel do design gráfico na vida da sua empresa, com certeza ainda tem problemas básicos de administração na sua empresa.

Um empresário que não entende o valor de uma boa usabilidade no seu site, de uma harmonia cromática em sua identidade visual, da ergonomia na sua embalagem, da clareza de sua sinalização, ou no ritmo de leitura do seu material gráfico, ainda não é um empresário, ainda está no amadorismo. A empresa só sai do amadorismo quando ela cresce, quando a ela é permitido o desenvolvimento.

O empresário amador não sabe e não entende o poder do design

O que muitas vezes tenho visto acontecer são mercados inteiros ainda imaturos. Mercados baseados no amadorismo empresarial. O empresário amador não sabe e não entende o poder do design. Não consegue ver a relação direta entre o "P" de promoção e o desenvolvimento da sua empresa.

Mas o pior mesmo é quando o amadorismo ainda está no próprio design gráfico. O profissional do design que se comporta como amador vive pra sempre sem entender a própria função. E eu não estou aqui falando do "micreiro"ou do "sobrinho", se você é designer e acha que o "sobrinho" é seu concorrente, amigo, está na hora de você rever seus conceitos. A empresa que procura o serviço amador de um "sobrinho" não precisa de um designer, porque ela ainda é amadora. O objetivo do trabalho do designer é PROFISSIONAL. Mercados amadores não estão prontos para o design.

Quando você vê uma sociedade que não valoriza o papel do design gráfico, você está diante de uma sociedade que precisa evoluir economicamente. As regiões do Brasil que tem, por exemplo, desenvolvimento industriais muito avançados, tem um mercado de design gráfico a pleno vapor. Com escritórios internacionalmente premiados, com profissionais valorizados.

A valorização do profissional de design reflete o desenvolvimento econômico de uma sociedade.

sábado, 21 de março de 2015

O beijo gay, a bicicleta e o brasileiro médio

Beijo gay das personagens de Fernanda Montenegro e Nathália Timberg 


O brasileiro não sabe o que é direito.

Tá, não vou ser tão radical assim... O brasileiro tem uma visão distorcida do que é direito.

Não, ainda está generalizando demais... O brasileiro médio tem uma definição deturpada do que é direito.

Acho que é isso.

Quando eu falo brasileiro médio, não estou falando em classe social. O brasileiro médio é aquele que tem argumentos que não vão além do próprio umbigo, e pra isso, pouco importa a classe social ou a situação financeira. Também não estou falando do Direito (com letra maiúscula) que é a definição da ciência do direito, esse campo o brasileiro conhece muito bem, afinal, de um tempo pra cá, cada vez mais o Direito está acessível a todos. Eu falo do direito, aquele que é primo-irmão do dever na nossa constituição. Falo da faculdade de uma pessoa mover a ordem jurídica pelo seus interesses. Essa última definição ainda é muito obscura na cabeça do brasileiro médio.

A democracia no Brasil nunca foi adulta, ela já morreu várias vezes na nossa história e sempre morreu jovem. Quando ela renascia era sempre na figura de uma criança frágil, que precisava ser cuidada para crescer forte e saudável, o problema é que na maioria das vezes mandaram a democracia, ainda adolescente, para o exílio. Se o brasileiro não é íntimo nem da noção de democracia, imagine do direito.

Foi assim desde o embrião do nosso país. Quando a Família real veio fugida para o Brasil, aqui já não existia democracia nenhuma. A última coisa que um Estado escravocrata poderia ser, era democrata. No entanto a mudança da família real e de toda a corte portuguesa foi de verdade o início desse sentido deturpado de democracia e do direito. A figura da nobreza no Brasil, fez com que uma nova classe entrasse na dinâmica social existente. A família Real exigiu privilégios que eram inerentes à nobreza. A partir daí a noção de direito para o brasileiro passou a ser atrelado a uma classe social. A nobreza tinha mais direitos que o resto da população, garantidos principalmente pela herança de sangue.

O problema é que nesse meio tempo, a família real percebeu que cá, diferente de lá, além de sangue azul, era preciso ter riqueza, e as posses principais dos nobres e fidalgos tinham ficado lá do outro lado do atlântico, largados as pressas. A solução mais fácil para a corte portuguesa foi vender títulos de nobreza. Assim ganhavam todos os cidadãos, quem tinha sangue azul conseguia manter seus privilégios, e quem tinha o dinheiro ascendia socialmente ganhando novos direitos. O resto da população não entra nessa equação, afinal, não tinham direito a nada, não eram cidadãos.

A noção do direito acabou mudando, agora no Brasil, para ter privilégios bastava ter dinheiro, pouco importava se seu sangue era azul, vermelho ou de barata. Nesse contexto, a situação ficou insustentável para a nobreza, mesmo barganhando com os donos do dinheiro e berrando às margens do Ipiranga, não teve jeito, tomaram um belo e merecido chute na bunda.

Os republicanos assumiram o poder, quer dizer, só mudaram o nome do jogo, afinal eles já mandavam no país, bem antes de qualquer proclamação. Foi uma transição pacífica, pra quer brigar num jogo de cartas marcadas? Ou seja, todo o status quo do império continuou existindo, não houve nenhuma mudança social significativa com a proclamação da república brasileira.

No meio de toda a herança social do império veio a noção deturpada do direito. O povo brasileiro passou a entender direito como privilégio, e privilégio não é pra todo mundo, o direito é. Essa noção deturpada se entranhou em todos as classes sociais, independente de que tem posse, ou de quem é possuído.

Seja rico, classe-média ou pobre a ideia de "direito = privilégio" existe. Na república velha os direitos ou privilégios eram dos grandes proprietários de terra, só os filhos deles tinham direito ao ensino superior, por exemplo. As pessoas achavam isso absolutamente normal, afinal, se eles é que tinham dinheiro, então todos os privilégios/direitos a eles.

Esse sentindo deturpado do direito se perpetuou na sociedade brasileira. E o pior, agora não é mais ligado só ao sentido de posse, hoje em dia as pessoas exigem seus direitos/privilégios baseados em questões como religião, gênero, opção sexual, raça, etc.

Por isso é tão difícil para as minorias alcançarem ganhos de direitos civis no país. Porque o brasileiro médio acha que dar direito a outras pessoas, que não seja ele, é tirar seus privilégios. Por isso é tão difícil um beijo gay na novela das 21h. Porque o brasileiro médio acha que expressão de amor é um direto/privilégio somente dos heterosexuais. Qualquer tentativa de igualar os direitos é dar privilégios aos gays, automaticamente tirando dos héteros. O brasileiro médio não consegue entender o sentido de direito universal, pra ele, direito é privilégio, e privilégio é pra poucos.

O mesmo está acontecendo com os ciclistas em São Paulo. Qualquer política pública de incentivo ao uso das bicicletas, é vista pelos motoristas (a maior representação proporcional do brasileiro médio) como uma perda de privilégios. Para esse ser de pensamento obtuso, uma ciclofaixa é um roubo do seu privilégio de andar com seu carro na rua.

Ciclofaixa na Av. Paulista. créditos: Oswaldo Corneti/ Fotos Públicas
Por isso é tão difícil aprovar uma lei que regulamente a adoção de crianças por casais homossexuais, ou mesmo regulamentação de uniões homoafetivas. Porque pro brasileiro médio, família é um privilégio de poucos. Quem for diferente dele, não tem direito, afinal, direito é privilégio, e privilégio é pra poucos.

O mais preocupante de tudo isso é que nesse cenário, pouco adiantam as políticas públicas, elas sempre vão ser rejeitadas, porque, infelizmente, além de resistente, o brasileiro médio é numeroso.

quarta-feira, 8 de maio de 2013

Agência de publicidade: o palco de uma sociedade do espetáculo.

Pra quem não conhece, "Sociedade do espetáculo" de Guy Debord é uma crítica à sociedade capitalista pelo viés da relação de trabalho marxista. Vixe! complicado, né? Pra tentar deixar mais fácil, Marx acreditava que a sociedade capitalista é fundamentada na relação proletariado x burguesia. A relação de explorador e explorado. Essa relação é intensificada a partir da revolução industrial, com a produção em série e as linhas de montagem. Debord se apropria dessa definição de relação e parte para a crítica da própria sociedade. Para Debord toda a sociedade é baseada em uma retroalimentação. Tudo que a sociedade gera e consome serve unica e exclusivamente para manter essa relação de explorado e explorador.

"Numa definição básica, a sociedade do espetáculo consiste no povo como alvo de uma série de estratégias para que esse torne-se passível aos mecanismos do capitalismo e seus valores." São estratégias para que o povo se sinta sempre confortável com a própria exploração. "Os meios de comunicação de massa são as principais ferramentas desse modo de vida, através deles é realizada a manipulação de imagens e fatos da própria realidade, que passa a ser uma outra, inventada, idealizada. Mas, segundo Debord, junto desses meios estão a religião, a política, as celebridades e os publicitários."

Na sociedade capitalista tudo é produto - tudo mesmo - tudo pode ser vendido, basta que pra isso se introduza o fetiche (outra teoria de Marx). Crer que algo te traz felicidade e prazer é o passo definitivo para tornar algo vendável e mais fácil de ser assimilado pela sociedade. Ufa!

Ok, chega de teoria, vamos falar sobre o que realmente esse post se presta. A sociedade atual chegou a um ponto de espetáculo que até a própria exploração do trabalho é uma mercadoria. Ter seu tempo e esforço explorado a exaustão virou um fetiche. Vou falar do meu mundo, de onde eu conheço, do mudo da publicidade, as agências principalmente. O mercado publicitário é frenético, internamente então nem se fala, é uma "correria" dentro das agências, prazos, provas, orçamentos, e outra infinidade de coisas que tanto estressam.

Sem hipocrisia, falando com toda a sinceridade, a publicidade tem uma relação de trabalho baseada em  exploração da mão de obra, mas muita exploração mesmo (parece forte, mas é a verdade). Na grande maioria dos casos trabalha-se muito e se ganha muito mal, muito mal mesmo (desculpe se estou sendo exageradamente enfático, mas acho necessário aqui). Falando assim faz parecer que ninguém em sã coincidência se submeteria a trabalhar nessa área, certo? Pois é o inverso. Quando entrei nesse mundo o discurso era "isso já tava assim quando eu cheguei". Os primeiros estágios me deram essa noção, ouvia coisas como "em agência se trabalha muito" ou "é assim mesmo, nessa área o ritmo é puxado". Até aí tudo bem, eu, menino novo, empolgado, achava que "era assim mesmo". Hoje eu vejo que tudo isso na verdade era a "banalização da exploração", as pessoas eram doutrinadas a achar muito natural ser explorado.

O pior é que isso evoluiu (mas não no sentido bom do Charles Darwin). A coisa piorou, se antes havia uma banalização da exploração agora a coisa virou uma glamourificação da exploração. As pessoas não acham mais "normal" trabalhar até a madrugada todos os dias, quase não ter vida social, agora elas acham "lindo". A maior vitória delas é ser explorada. Não, não é legal fazer hora extra todos os dias (em nenhum sentido da palavra), não, não é legal trabalhar todos os finais de semana. Não, não é legal comer pizza de péssima qualidade na madrugada enquanto o dono da agência come nos melhores restaurantes da cidade. Não, não é legal fazer checkin na agência 3 horas da manhã e colocar na legenda "só os guerreiros". Se for pra usar uma metáfora, a de guerreiro é a menos coerente, talvez escravo seja a mais certa.

Virou uma coisa tão naturalizada que as pessoas perpetuam o discurso em todos os níveis de vida. As pessoas usam as redes sociais para reforçar esse discurso. O que pra muitos parece somente "piadas de facebook" sobre como o publicitário deve estar ligado 24hs no trabalho, "mesmo quando dorme" é na verdade a naturalização dessa exploração. Não confundam, trabalhar naquilo que se gosta não significa só trabalhar, a vida é muito maior que as quatro paredes da agência.

Esse post não é pra julgar ninguém. Eu sei bem que o mercado publicitário não é fácil, sei também que é preciso colocar comida na mesa, que muitas vezes a gente se submete a certas coisas porque é necessário, eu mesmo já trabalhei anos em agência e não tenho problema nenhum em voltar. Nem tão pouco estou incentivando qualquer "revolta do proletariado". Também não estou querendo dizer que o mercado publicitário é um demônio, mesmo porque trabalhar com publicidade é muito bom. O que estou chamando atenção é para como muitas vezes nos encontramos em um contexto que parece natural e não nos damos conta de como isso nos afeta. O meu espetáculo é a qualidade de vida. Eu ainda não tenho a fórmula para isso, mas tenho certeza que o modo como está não é o mais certo.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Infestação de zumbis

Eu tenho mania de classificar as coisas a meu modo. Crio umas categorias bem esquizofrênicas. Agrego coisas por afinidades que muitas vezes só eu entendo. Faço isso com quase tudo (será TOC?) de filmes a pessoas. As vezes essas minhas classificações coincidem com de outras pessoas, ou são muito parecidas com as organizações clássicas. No cinema por exemplo, eu costumo classificar filmes em  categorias bem diferentes, uma delas é de filmes pós-apocalípticos. Normalmente esses filmes são classificados como ficção, mas eu acho que essa palavra é muito abrangente, não consegue captar a particularidade de alguns filmes. Acho que não dá pra juntar filmes espaciais e de realidades alternativas no mesmo balaio e chamar tudo de ficção. Comercialmente até pode ser, mas no "fantástico mundo de Bob" isso não rola. Isso é uma forma legal de trabalhar a imaginação e a lógica, o único problema é que toda vez que vou ter uma discussão sobre o tema tenho que explicar como minha mente funciona, para que a outra pessoa não ache que eu sou "louco".

A minha classificação de filmes/livros pós-apocalípticos é a seguinte: doenças, guerra nuclear, ETs, catástrofes naturais, zumbi. O que eu mais gosto é de Zumbi. Até hoje ainda não vi nenhum filme/livro/série sobre os outros temas que tenha sido tão bem feito como os de zumbi, com exceção de  "Ensaio sobre a cegueira", que é o livro mais legal dessa categoria pós-apocalíptico (viu o que eu falei sobre "categorias esquizofrênicas"?).  Claro que nem tudo de zumbi é legal ou digno de se levar a sério, alguns filmes do anos 70/80 ("miooolo" lembra?) são clássicos, mas são caricatos demais, ou mesmo alguns mais recentes como Zombieland. Eu tô falando de coisas mais "reais" (reais? olha a loucura de novo) como "Extermínio", "Eu sou a lenda", etc. Há pouco tempo li "Guerra do mundo Z", um livro muito bom sobre zumbi que está sendo adaptado para o cinema, recomendo.

Uma dessas produções que se pode levar a sério e que eu gostei muito é Walking dead. Não falo como adaptação, não conheço a HQ. Falo como série de tv, gostei mesmo. No entanto, como sou chato, algumas coisas sobre a série me aborrecem. Uma das principais coisas é a total falta de passado. As pessoas estão em pleno apocalipse zumbi e acham a coisa mais natural do mundo. Ninguém especula sobre o que aconteceu, como aconteceu, absolutamente nada. Nem o clássico "onde você estava no dia que aconteceu tudo" é mencionado. O pior de todos é o protagonista, o ajudante de delegado Rick. O cara acordou de um coma em meio a um hospital destruído (não vou nem entrar na questão da cena ser quase idêntica a primeira cena de Extermínio) com um monte mortos-vivos preso em uma sala, a cidade um caos, com mortos espalhados por toda parte, alguns inclusive querendo comer seu corpo, literalmente, e o cara não pergunta nada! absolutamente nada sobre o que é aquele caos. Não, pelo contrário, leva tudo numa naturalidade absurda, afinal é muito comum ver zumbis na rua. Até aí tudo bem, vamos levar em conta que o cara tá em choque e tudo. Mas mesmo depois de encontrar a família perdida o cara simplesmente não tem a menor curiosidade sobre o que aconteceu, NADA! E não é só ele, todos os personagens sofrem de amnésia.

Ficava revoltado com o fato de não explorarem esse viés, uma área imensa e obscura da narrativa que poderia ser trabalhada. Mas aos pouco fui entendendo qual é a estratégia da produção. Walking Dead está seguindo uma narrativa transmídia, ou pelo menos uma tentativa. A grosso modo narrativa transmídia é contar uma história em várias plataformas, como: filmes, games, livros, internet, etc, tudo junto ao mesmo tempo. Essa forma de contar história ficou conhecida com Matrix, onde todo conteúdo era distribuído em três filmes, um game e 9 animações, todas se completando. O problema no caso de Matrix é que caso não fosse possível consumir todas as plataformas a narrativa ficava com algumas falhas. Muito dos filmes só é possível entender se jogarmos o game ou assistirmos todas as animações. Essa é a maior crítica para Henri Jenkins. Segundo o autor a narrativa transmidia precisa ser feita em várias plataformas, no entanto mesmo que se consuma apenas uma delas seja possível entender o conteúdo por completo. É, difícil, né? Muitos dizem que "Lost" foi o mais próximo de uma narrativa transmidiática (confesso nunca vi) mas mesmo assim com algumas falhas.

Na segunda temporada de Walking Dead foram lançados vários curtas na internet. O conteúdo eram histórias paralelas, explicando como algumas pessoas viraram zumbi. Muitos desses zumbis tinham participação nos episódios principais, geralmente atacando os protagonistas. Essa primeira tentativa de transmídia foi bem interessante, afinal os micro-episódios só acrescentavam a narrativa principal. A segunda tentativa de transmídia em Walking Dead vai ser lançado agora em 2013. O mais novo jogo da série com o título de "The Walking Dead: Survival Instinct" vai focar na história dos irmãos Daryl e Merle Dixon. O game vai contar como foi a vida deles a partir do início da contaminação até eles se reunirem com o grupo em Atlanta. Já é o quinto jogo baseado em Walking Dead, mas o primeiro a focar em Rick e seus amigos.

Será que finalmente vamos entender o contexto de alguns personagens? Começar a entender o que aconteceu? Ter idéia do tamanho da contaminação? Parece que aos poucos as lacunas da história vão sendo preenchidas. No entanto acredito que essa proposta de transmídia não seja a melhor escolha para a série. O perfil do público é variado, não sei se a maioria dos fãs está disposta a jogar um game inteiro para saber a origem dos personagens. Além é claro do fato do sucesso da série não se manter constante e os outros suportes não terem tanto sucesso como a série de TV. Isso acabaria deixando lacunas muito maiores no enredo do que a simples omissão.

Enfim, espero que pelo menos o jogo seja bom, pelo trailer, promete.

O game "The Walking Dead: Survival Instinct" chegará aos EUA em 26 de março, com versões para PC, PlayStation 3, Xbox 360 e Wii U.


sábado, 5 de janeiro de 2013

7 vídeos virais antes do Youtube

"Gangnam style" foi primeiro vídeo a ter 1 bilhão de acessos no YouTube. Muita gente já viu o cantor Psy fazendo sua dança do cavalo manco (confesso que eu ainda não vi). Pra muita gente parece até bem simples conseguir esses grandes números de acessos. Banda larga, 3G, redes sociais, e outras coisas ajudam muito a elevar as visualizações.

Mas houve uma época que isso era bem diferente, uma época em que não existia o Youtube (em alguns casos nem o próprio google existia). Um tempo onde o modem fazia uma sinfonia bizarra dentro do computador. Uma época em que gritavam o tempo todo na sua casa: "quem tá na internet?!? Desliga!! eu quero usar o telefone!". Um tempo em que esperávamos até a meia noite pra gastar só um pulso do telefone, e não ter que ouvir muito com a conta do telefone no fim do mês. Um tempo onde o BOL fazia propaganda na televisão.

Nessa época o mais próximo de site de rede social era o mIrc ou as salas de bate papo. O máximo que se podia compartilhar eram imagens, e mesmo assim com baixa resolução. A troca de informações frenética acontecia mesmo no nível dos outlooks da vida.

Era (ainda é?) comum abrir seu e-mail e ter dezenas e dezenas de mensagens de amigos com variado número de besteiras. Desde correntes para salvar golfinhos albinos da Patagônia, até apresentações de power point com midis insuportáveis. E claro, as mais bizarras lendas urbanas, como a da agulha infectada com vírus HIV que era deixada no buraco onde se pegava a ficha não usada no telefone público (detalhe, a corrente circulava com alarde, sendo que não existia mais telefones públicos de ficha.) E junto de tudo isso era compartilhado video. Não muitos, a conexão não suportava tantos dados. A relação era mais ou menos de 10 e-mails com correntes/power points/imagens para 1 de vídeo.

Alguns desses vídeos faziam muito sucesso. Viraram virais da noite pro dia - tá bom, nem tão rápido assim - eram compartilhados entre amigos e familiares. Nessa época era comum nas reuniões de família frases como "tu já recebeste o vídeo 'tal'?" ou "essa semana te mando um vídeo bem legal que recebi". Era tão complicado compartilhar vídeos que muitos se programavam para recebê-los. Deixavam o computador conectado a noite inteira para atualizar a caixa de entrada, sério.

Mesmo assim, esses vídeos conseguiam alcançar seus sucessos. Não acredito que nenhum deles, nessa época, tenha chegado nem próximo ao que Psy fez em 2012. Mas que fizeram o seu sucesso, isso eles fizeram. Fiz uma pequena lista dos vídeos que fizeram muito sucesso, aqui no Brasil.

Puxando pela minha memória, vou tentar fazer uma organização cronológica.

1 -  Como funciona o seu computador por dentro.
é uma animação bem legal. Ela é tosca. Sempre foi. Som ruim, animação mal feita. Mas é muito legal. O contexto que ele surgiu foi bem coerente. Muita gente entrando no mundo digital não sabia como o próprio computador e a internet funcionavam. O vídeo explicava de forma bem didática como era isso.




2 - Alien song.
outra animação. Só que muito mais bem feita. Esse é de 1999. Bem antes do youtube.


3 - O cara tussiu.
talvez o mais tosco de todos. Uma animação/colagem feita a partir de uma tradução ainda mais tosca da música do herói japonês Jaspion. A primeira vez que eu recebi esse vídeo, ele veio com a extensão do flash (nessa época adobe ainda nem tinha comprado a macromedia, desenvolvedora do flash). As extensões de vídeo eram muito pesadas, compartilhar "vídeos" em flash era uma ótima solução.


4 - Festa no apê.
não, não era o Latino. Na verdade o vídeo era de uma rapaziada que fazia vídeo-paródias. O grupo se chama "VaiVc". Eles fizeram uma paródia da versão da música do Latino (o.O), o resultado não podia ser o mais coerente, tosco, muito tosco, mas muito divertido. Esse vídeo era obscuro, sério, não era simples encontrar o vídeo na internet. Depois eles criaram um site e ficou mais fácil.


5 - A história do Mamute.
Mais uma animação. A música bem humorada conta a história de um Mamute que sempre se dá mal.


6 - Velho sem vergonha, comeu e não pagou.
Seria cômico se não fosse trágico. Não sei o que mais me chamou a atenção. Se o contexto de tudo ou a pergunta do repórter :P


7 - Jeremias muito louco.
Foi o primeiro sucesso brasileiro no Youtube, no entanto antes mesmo disso ele já fazia sucesso nos e-mails das firmas.





E aí? lembra de mais algum?

domingo, 24 de junho de 2012

Café com leite... de coco

Há quase um ano eu mudei radicalmente meus hábitos alimentares. Cortei de vez a carne do cardápio. Sério. Motivado por princípios ideológicos e biológicos não como mais nenhuma carne, nem vermelha nem branca. Não me tornei vegan, virei vegetariano. Pra quem não sabe a diferença: uma pessoa vegan (ou vegano) não consome nada de origem animal, nada mesmo, não só na questão alimentícia mas até no vestuário. Não usa roupas de couro, não usa cosméticos testados em animais, não come leite e derivados, etc. O vegetariano pode consumir leite e derivados, mel, ovo. No meu caso, fiquei com a segunda opção.

Mas a mudança de hábito começou bem antes de eu cortar as carnes, pelo menos uns seis meses antes. Desenvolvi uma intolerância a lactose. É, eu sei, é triste. Imagine não poder comer queijos, leite condensado, creme de leite... doce de leite!! Mas por questão de força maior foi preciso abandonar essas coisas tão boas. Junto com essa intolerância veio uma leve gastrite (muito mais nervosa que alimentícia). Ou seja, havia chegado a hora de rever tudo o que eu estava comendo. Não, nunca fui de comer muita besteira, mas eu tenho um problema de compulsão, quando eu gosto de algo só consigo parar de comer quando acaba. Se abrisse um barra de chocolate, só me dava satisfeito quando acabava. Caixa de Bis era devorada de uma vez só.

Um dos prazeres da minha vida era tomar café com leite de manhã. Sério, era o desjejum mais especial de todos, eu acordava já pensando nisso. Aquela xícara de café com leite quentinha e um pão com manteiga derretida. Simples e delicioso. Mas tive que abandonar esse prazer. Por um lado a intolerância a lactose não deixava tomar o leite, e do outro a gastrite impedia de tomar só o café (na verdade não gosto só do café, o que eu gosto mesmo é da combinação do café com leite). A gastrite foi relativamente fácil de resolver, fui ao médico e consegui controlar, já a intolerância à lactose, essa não tem jeito, terei que conviver para sempre com ela. Aos pouco fui me acostumando com a nova rotina matutina, nada de café com leite, no lugar, um suco natural. Me adaptei, não foi fácil no início, mas consegui. Hoje acordo pensando no suco de acerola diário.

Depois que entrei de vez no mundo vegetariano foi ainda mais fácil me adaptar ao mundo sem leite, mas lá no fundo, bem guardado morava uma inveja de quem podia tomar uma bela xícara de café com leite. Hoje eu matei essa vontade. Depois de um ano e meio sem tomar café com leite eu finalmente consegui. Mas calma, não tentei um suicídio lácteo não. Experimentei um delicioso café com leite de coco!

É, pode parecer estranho, mas não é. Há dias vinha pesquisando sobre o consumo desse leite vegetal no dia a dia. Até então só havia experimentado leite de coco em receitas mais elaboradas como moquecas, vatapá, bobó de camarão, cuscuz, etc. Mas nunca tinha pensado em consumi-lo dessa maneira. Não sou fã de leite de soja, já tomei muito, bem antes de ser vegetariano, mas hoje em dia não tolero. Mas o leite de coco foi uma descoberta fantástica, pelo menos na combinação com o café. A receita é há bastante conhecida, a bebida é chamada de Café Havaiano.

No mercado nacional só existe o leite de coco culinário, muito concentrado, não há uma opção para consumo direto, como o leite de soja. Por isso se você for utiliza-lo dessa maneira recomenda-se diluir o leite de coco em água ou no leite de vaca (pra quem pode). Usei a proporção de uma para duas, ou seja, uma porção de leite de coco diluida em duas de água (ou leite). Pronto, esquentei e usei como leite normal, joguei o café dentro e adocei. Uma delícia, o sabor do coco é percebido, mas ele só agrega ao sabor do café. Gostei muito. Recomendo.


em alguns países já há opções de consumo direto.

no Brasil só os culinários.



Receita café havaiano (minha adaptação)

Ingredientes:
- 1/2 xícara de leite de coco
- 1 xícara de água
- 1 colher de café solúvel extra forte
açúcar

Preparo
Misture o leite de coco e a água e leve o fogo ou ao microondas. Depois de quente misture o café e o açúcar e misture. Bom apetite.


* E o mais maluco de tudo foi a "liga" que o café me deu. Mais de um ano sem tomar café, o efeito da cafeína foi fulminate, sério. Fiquei elétrico, eufórico. Não tava entendendo muito no início, até que lembrei do café da manhã.