sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Infestação de zumbis

Eu tenho mania de classificar as coisas a meu modo. Crio umas categorias bem esquizofrênicas. Agrego coisas por afinidades que muitas vezes só eu entendo. Faço isso com quase tudo (será TOC?) de filmes a pessoas. As vezes essas minhas classificações coincidem com de outras pessoas, ou são muito parecidas com as organizações clássicas. No cinema por exemplo, eu costumo classificar filmes em  categorias bem diferentes, uma delas é de filmes pós-apocalípticos. Normalmente esses filmes são classificados como ficção, mas eu acho que essa palavra é muito abrangente, não consegue captar a particularidade de alguns filmes. Acho que não dá pra juntar filmes espaciais e de realidades alternativas no mesmo balaio e chamar tudo de ficção. Comercialmente até pode ser, mas no "fantástico mundo de Bob" isso não rola. Isso é uma forma legal de trabalhar a imaginação e a lógica, o único problema é que toda vez que vou ter uma discussão sobre o tema tenho que explicar como minha mente funciona, para que a outra pessoa não ache que eu sou "louco".

A minha classificação de filmes/livros pós-apocalípticos é a seguinte: doenças, guerra nuclear, ETs, catástrofes naturais, zumbi. O que eu mais gosto é de Zumbi. Até hoje ainda não vi nenhum filme/livro/série sobre os outros temas que tenha sido tão bem feito como os de zumbi, com exceção de  "Ensaio sobre a cegueira", que é o livro mais legal dessa categoria pós-apocalíptico (viu o que eu falei sobre "categorias esquizofrênicas"?).  Claro que nem tudo de zumbi é legal ou digno de se levar a sério, alguns filmes do anos 70/80 ("miooolo" lembra?) são clássicos, mas são caricatos demais, ou mesmo alguns mais recentes como Zombieland. Eu tô falando de coisas mais "reais" (reais? olha a loucura de novo) como "Extermínio", "Eu sou a lenda", etc. Há pouco tempo li "Guerra do mundo Z", um livro muito bom sobre zumbi que está sendo adaptado para o cinema, recomendo.

Uma dessas produções que se pode levar a sério e que eu gostei muito é Walking dead. Não falo como adaptação, não conheço a HQ. Falo como série de tv, gostei mesmo. No entanto, como sou chato, algumas coisas sobre a série me aborrecem. Uma das principais coisas é a total falta de passado. As pessoas estão em pleno apocalipse zumbi e acham a coisa mais natural do mundo. Ninguém especula sobre o que aconteceu, como aconteceu, absolutamente nada. Nem o clássico "onde você estava no dia que aconteceu tudo" é mencionado. O pior de todos é o protagonista, o ajudante de delegado Rick. O cara acordou de um coma em meio a um hospital destruído (não vou nem entrar na questão da cena ser quase idêntica a primeira cena de Extermínio) com um monte mortos-vivos preso em uma sala, a cidade um caos, com mortos espalhados por toda parte, alguns inclusive querendo comer seu corpo, literalmente, e o cara não pergunta nada! absolutamente nada sobre o que é aquele caos. Não, pelo contrário, leva tudo numa naturalidade absurda, afinal é muito comum ver zumbis na rua. Até aí tudo bem, vamos levar em conta que o cara tá em choque e tudo. Mas mesmo depois de encontrar a família perdida o cara simplesmente não tem a menor curiosidade sobre o que aconteceu, NADA! E não é só ele, todos os personagens sofrem de amnésia.

Ficava revoltado com o fato de não explorarem esse viés, uma área imensa e obscura da narrativa que poderia ser trabalhada. Mas aos pouco fui entendendo qual é a estratégia da produção. Walking Dead está seguindo uma narrativa transmídia, ou pelo menos uma tentativa. A grosso modo narrativa transmídia é contar uma história em várias plataformas, como: filmes, games, livros, internet, etc, tudo junto ao mesmo tempo. Essa forma de contar história ficou conhecida com Matrix, onde todo conteúdo era distribuído em três filmes, um game e 9 animações, todas se completando. O problema no caso de Matrix é que caso não fosse possível consumir todas as plataformas a narrativa ficava com algumas falhas. Muito dos filmes só é possível entender se jogarmos o game ou assistirmos todas as animações. Essa é a maior crítica para Henri Jenkins. Segundo o autor a narrativa transmidia precisa ser feita em várias plataformas, no entanto mesmo que se consuma apenas uma delas seja possível entender o conteúdo por completo. É, difícil, né? Muitos dizem que "Lost" foi o mais próximo de uma narrativa transmidiática (confesso nunca vi) mas mesmo assim com algumas falhas.

Na segunda temporada de Walking Dead foram lançados vários curtas na internet. O conteúdo eram histórias paralelas, explicando como algumas pessoas viraram zumbi. Muitos desses zumbis tinham participação nos episódios principais, geralmente atacando os protagonistas. Essa primeira tentativa de transmídia foi bem interessante, afinal os micro-episódios só acrescentavam a narrativa principal. A segunda tentativa de transmídia em Walking Dead vai ser lançado agora em 2013. O mais novo jogo da série com o título de "The Walking Dead: Survival Instinct" vai focar na história dos irmãos Daryl e Merle Dixon. O game vai contar como foi a vida deles a partir do início da contaminação até eles se reunirem com o grupo em Atlanta. Já é o quinto jogo baseado em Walking Dead, mas o primeiro a focar em Rick e seus amigos.

Será que finalmente vamos entender o contexto de alguns personagens? Começar a entender o que aconteceu? Ter idéia do tamanho da contaminação? Parece que aos poucos as lacunas da história vão sendo preenchidas. No entanto acredito que essa proposta de transmídia não seja a melhor escolha para a série. O perfil do público é variado, não sei se a maioria dos fãs está disposta a jogar um game inteiro para saber a origem dos personagens. Além é claro do fato do sucesso da série não se manter constante e os outros suportes não terem tanto sucesso como a série de TV. Isso acabaria deixando lacunas muito maiores no enredo do que a simples omissão.

Enfim, espero que pelo menos o jogo seja bom, pelo trailer, promete.

O game "The Walking Dead: Survival Instinct" chegará aos EUA em 26 de março, com versões para PC, PlayStation 3, Xbox 360 e Wii U.